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ETIOLOGIA

Têm sido realizados inúmeros estudos que procuram compreender as causas anatómicas e fisiológicas das perturbações do espectro autista, de forma a encontrar tratamentos eficazes e melhorar a qualidade de vida das pessoas portadoras destes distúrbios.


As causas da SA ainda não são totalmente compreendidas. Muitos especialistas acreditam que as alterações de comportamento que constituem a SA podem resultar não de uma causa única mas de uma cadeia de causas.

Pensasse estarem relacionadas com fatores genéticos, metabólicos, infeciosos e pré-natais. Existe alguma informação que leva a pensar que esta seja provocada por um conjunto de fatores neurobiológicos que afetam o desenvolvimento cerebral. Várias teorias estão disponíveis mas nenhuma delas é suscetível de proporcionar uma explicação completa para esta síndrome. (13)


Os investigadores identificaram diferenças na estrutura e na função de regiões específicas do cérebro entre crianças com síndrome de Asperger e crianças não afetadas. Pensa-se que estas diferenças surgem antes do nascimento, durante o desenvolvimento, quando as células do cérebro estão a migrar para os seus devidos lugares. É provável que a combinação de alguns genes e fatores ambientais causa estas diferenças no cérebro.

Síndrome de Asperger e outras perturbações do espectro de autismo tendem a “correr” na família, o que sugere uma causa genética. Cientistas não encontraram um gene específico para explicar o desenvolvimento da Síndrome de Asperger. Contudo, estudos sugerem que vários genes estão relacionados com esta síndrome. (9)

 

Embora se pense que os fatores genéticos possam contribuir para o desenvolvimento da Síndrome de Asperger, não há genes relacionados que tenham sido confirmados cientificamente. Não está claro se certas variações de genes que estão a ser estudadas noutras desordens do espectro autista irão também desempenhar um papel significativo na Síndrome de Asperger. No entanto, é possível estabelecer uma relação entre a Síndrome de Asperger, o autismo e as outras doenças do espectro autista, não só a nível de diagnóstico e tratamento mas também em relação às possíveis causas. (6)

 

Os cientistas já suspeitavam da existência de componentes genéticos e ambientais para a síndrome de Asperger e outras desordens do espectro autista devido à sua tendência de ocorrer em indivíduos da mesma família e a sua alta concordância em gêmeos.

Foi observada uma evidência adicional para a ligação entre as mutações genéticas herdadas, assim como uma maior incidência de membros da família que têm sintomas comportamentais similares à AS, mas de uma forma mais limitada, incluindo pequenas dificuldades com interação social, linguagem, ou na leitura. (9)

 

Em cada 10 casos de gémeos idênticos, que compartilham o mesmo código genético, em que um dos gémeos tem SA existem aproximadamente 9 casos em que o outro gémeo também tem SA. Também, no caso de um individuo ter SA, os seus irmãos têm 35 vezes maior risco do que o normal de também desenvolverem a doença.

Os investigadores estão a começar a identificar os genes específicos que podem aumentar o risco de SA, mas ainda assim, a percentagem de sucesso em encontrar quais são exatamente os genes envolvidos, é quase nula. Por outro lado, uma grande percentagem das pessoas que desenvolvem SA não têm historial familiar de autismo relatado, sugerindo que, provavelmente, muitas mutações genéticas, raras e aleatórias são suscetíveis de afetar o risco de desenvolver SA.


Qualquer alteração da informação genética normal de uma pessoa é chamada de mutação. As mutações podem ser herdadas, mas também surgir sem motivo. As mutações são anomalias genéticas que podem ser úteis, prejudiciais, ou não ter qualquer efeito.

Apesar de se ter vindo a detetar uma grande variedade de anomalias genéticas em indivíduos com perturbações do espectro autista, o modo como estas anomalias afetam o desenvolvimento cerebral ainda não é conhecido.
Ter maior risco genético não significa que uma criança vá certamente desenvolver SA. Muitos investigadores estão a concentrar-se no fato de muitos genes diferentes interagirem uns com os outros e com os fatores ambientais para entender melhor o modo como eles podem aumentar o risco desta doença.

Investigadores estão a estudar vários fatores ambientais, tais como condições familiares e médicas, a idade dos pais e outros fatores demográficos, exposição a toxinas e complicações durante o parto ou gravidez.


Tal como acontece com os genes, é provável que mais do que um fator ambiental esteja envolvido no aumento do risco de desenvolvimento da SA. E, tal como os genes, qualquer um destes fatores de risco aumenta o risco de apenas uma pequena quantidade de indivíduos. A maioria das pessoas que foram expostas a fatores de risco ambientais não desenvolveu a SA.
Assim, está a ser estudado o modo como determinados fatores ambientais podem afetar certos genes, transformando-os, ativando-os ou inativando-os; aumentando ou diminuindo a sua atividade normal. Este processo é designado por epigenética e está a oferecer aos investigadores novas formas de estudar a forma como os distúrbios como a AS se desenvolvem e as suas alterações ao longo do tempo. (14)

 

Aspetos genéticos

 

Estudos de famílias têm indicado que até mesmo os familiares de crianças autistas podem apresentar ligeiras alterações que se assemelham à sintomatologia autista, mas geralmente as pessoas estão bem adaptados socialmente. Essas alterações foram chamadas de "amplo fenótipo" e apareceu em cerca de 20% dos parentes próximos de crianças autistas. É caracterizada por anormalidades subtis na reciprocidade social, tais como rigidez, sensibilidade a críticas e falta de empatia, prejudicada comunicação verbal, assim como uma tendência a ter interesses restritos. (15)


Por entre a informação disponível, é difícil apontar uma causa objetiva para esta síndrome, assim, a capacidade de se estabelecer um método de análise é muito debilitada.


Analisando estudos mais recentes, denota-se que as áreas cerebrais afetadas pela Síndrome de Asperger correspondem às envolvidas no fator comportamental e emocional, ou seja, são implicadas zonas cerebrais como o córtex pré-frontal e amígdala. De modo muito geral, a área do hipocampo cerebral, em casos de distúrbios do espectro de autismo, apresenta uma distribuição espacial dendrítica diferente, isto é, visualiza-se um rearranjo dos neurónios o qual pode estar diretamente relacionado com o distúrbio verificado. (16)


Num dos estudos mais recentes é evidenciada uma relação entre os genes aparentemente associados com distúrbios autistas (NLGN3, NLGN4, NRXN1, CNTNAP2 e SHANK3) e as sinapses glutâmicas. Após análises detalhadas destes genes, são verificadas alterações patogénicas que afetam e estão presentes em indivíduos que sofrem de Síndrome de Asperger. (17)

Sobre análise detalhada de cada um deles: os genes NLGN3 e NLGN4 atuam de modo a promover a transmissão de sinais sinápticos, e ao sofrerem mutações tendem a causar suscetibilidade a doenças pertencentes a síndromes de autismo, contribuindo, nomeadamente para a síndrome de Asperger. (18) (19)


O gene NRXN1, oficialmente “neurexin 1”, é de grande importância na manutenção da adesão celular formada a partir de junções intercelulares, podendo também mediar a sinalização intracelular, e contribuir para a angiogénese (formação de novos vasos sanguíneos emergentes de outros pré-existentes). No caso de ocorrência de alterações neste gene, verifica-se, na maioria das vezes, características relacionadas com esquizofrenia, no entanto, sendo que Asperger tem pontos em comum com esta última, não se descarta a possibilidade deste mesmo gene também ser contributivo para esta. (20) (21)


O gene CNTNAP2, “contactin associated protein-like 2”, desempenha funções na formação de domínios funcionais distintos para a condução de impulsos nervosos em fibras nervosas mielinizadas. Parece demarcar a região da junção axo-glial. Mutações que este gene possa sofrer permitem a afetação da “tríade de comunicação” do indivíduo. (22)


O gene SHANK3, de nome oficial, “SH3 and multiple ankyrin repeat domains 3”, que é, entre os anteriormente referidos, o que mais se parece relacionar com esta síndrome em específico, possibilita a síntese da proteína SHANK3. Essa é maioritariamente encontrada no córtex cerebral, e contribui quer para a síntese e maturação de dendrites, quer para o controlo e certificação de envio (e correspondente receção) de impulsos nervosos.


As deleções detetadas nesse gene, muitas vezes estudadas em portadores de AS, implicam a formação de versões mais curta da proteína e consequente escassez da mesma, motivo que parece ser uma das causas para a dificuldade comunicativa e de ligação emocional. (23)


Para além destas mutações nos genes, mutações “frameshift”- envolvendo inserções ou deleções de nucleótidos nos quais o número de pares de base deletados não é divisível por três -, mutações “missense”- caracteristicamente relativas á substituição de um par de base o qual provoca a formação de uma proteína diferente -, e mutações durante o splicing, encontram-se representadas de forma notória como causas para a ocorrência desta síndrome e de outras diretamente relacionadas com distúrbios autistas. (24) (25)


As mutações verificadas nestes genes não são suficientemente específicas para a síndrome em estudo, mas caracterizam-se e são especialmente mencionadas porque se verifica cada vez mais a sua presença constante em síndromes desta tipologia. Podendo, por isso, estar envolvidas na sua contração. A compilação desta informação representa e evidencia uma correlação genótipo-fenótipo nas PEA, destacando a importância de uma avaliação clínico-neuropsiquiátrica detalhada para a triagem genética eficaz de pacientes com autismo.

 

Aspetos bioquímicos

 

As investigações bioquímicas sobre o espectro autista baseiam-se no papel dos neurotransmissores, quanto ao seu excesso ou défice ao nível da serotonina, que é uma substancia necessária para o funcionamento do cérebro.

 

Pensa-se que a utilização de antidepressivos durante a gravidez esteja relacionada com este tipo de doenças. Foi realizado um estudo com o objetivo de avaliar sistematicamente se a exposição pré-natal a antidepressivos está ou não relacionada com um aumento do risco de desenvolvimento da SA. Verificando-se um aumento do risco associado ao tratamento da progenitora com Inibidores Seletivos da Recaptação da Serotonina (ISRSs), estes aumentam a concentração extracelular do neurotransmissor serotonina ao inibir a sua recaptação pelo neurónio pré-sináptico, aumentando o nível de serotonina disponível para se ligar ao recetor pós-sináptico.

Estes ISRS podem atravessar a placenta e serem secretados no leite materno, elevando as preocupações sobre os efeitos adversos da exposição fetal e infantil.

Padrões de serotonina atípicas em amostras de sangue de indivíduos diagnosticados com AS e nos seus familiares têm sido consistentemente relatados em vários estudos, mas os caminhos biológicos subjacentes que podem ligar serotonina no sangue periférico, com expressão fenotípica dos AS ainda precisam ser esclarecidos.


Há uma série de explicações biologicamente plausíveis para a descoberta de uma associação entre a exposição pré-natal, SSRI e AS. Vários estudos anteriores têm indicado que as anomalias nos níveis de serotonina e vias serotoninérgicas podem desempenhar um papel importante no autismo. Estudos de imagens do cérebro demonstraram desenvolvimento atípico na capacidade de síntese da serotonina no cérebro de crianças com AS e anormalidades na ligação ao recetor de serotonina, no córtex cerebral. Outros estudos relatam níveis elevados de serotonina no sangue periférico, mas níveis baixos de serotonina no cérebro e consequente diminuição da ligação da serotonina no recetor de indivíduos com autismo
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As intervenções farmacológicas com drogas que atuam sobre o recetor de serotonina, incluindo o SSRI fluoxetina, mostraram melhorias nalguns comportamentos autistas em crianças, outros estudos mostraram que uma diminuição do nível de serotonina no sistema nervoso central está associada ao aumento de sintomas autistas. No entanto, recentes estudos dizem que não há nenhuma evidência de que os SSRIs são eficazes para o tratamento de crianças com autismo e ainda que existe uma evidência emergente de que eles podem causar danos. (26) (27) (13)


A idade materna ou paterna também deve ser considerada, uma idade mais avançada dos pais mostrou aumentar o risco das doenças do espectro autista. Alguns estudos recentes indicam que os pais mais velhos são, em particular, mais propensos a ter crianças com desordens tais como o autismo por causa de um aumento de mutações aleatórias associadas à idade avançada. Visto que, a diversidade na taxa de mutação de polimorfismo de nucleótido único (SNP) é dominada pela idade do pai no momento da conceção da criança. (28) (13)

 

Os anticorpos maternos têm, também, sido implicados. Uma análise constatou que a psoríase é uma condição autoimune apenas maternal significativamente associada ao desenvolvimento de uma doença do espectro do autismo. Níveis elevados de anticorpos contra o cérebro do feto foram encontrados em mães com filhos autistas. Um estudo descobriu que as crianças autistas e seus irmãos têm anticorpos elevados em regiões distintas do cérebro, incluindo o núcleo caudado, putâmen, córtex pré-frontal, cerebelo e sulco do cíngulo. Tem-se vindo a questionar a possibilidade do próprio sistema imunológico da criança poder estar também envolvido na causa da doença. (13) (29)

No entanto, como referimos anteriormente as possíveis causas da doença ainda não estão esclarecidas, sendo necessária a continuação da realização de estudos que possam esclarecer várias questões que ainda estão por responder.

 

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